Educação de Infância e PLANO ANUAL DE ATIVIDADES: que relação?
Inicia-se
o ano letivo e as equipas educativas das creches e dos jardins-de-infância
continuam a preparar a abertura do ano letivo e a ultimar os documentos
orientadores que norteiam a prática educativa dos educadores de infância e dos
estabelecimentos.
De
entre os vários documentos, há aqueles que são elaborados individualmente, como
o Projeto Curricular de Grupo, e sobre o qual partilhei uma reflexão na semana anterior.
Contudo, outros existem que são construídos colaborativamente entre os vários
agentes educativos. O Plano Anual de Atividades é um documento que no início de
ano letivo é discutido entre as equipas educativas em longas reuniões (que
parecem intermináveis). Antes de refletirmos sobre este documento importa
percebê-lo, ainda que sucintamente.
O
Plano Anual de Atividades, ao qual passarei a referir-me através da sigla PAA,
é um documento que visa o planeamento de propostas de atividade e ação numa
determinada instituição educativa. Este documento, que não pode ser elaborado
no vazio, deve dar resposta aos objetivos delineados no Projeto Educativo e,
naturalmente, à especificidade de cada grupo/ turma. Assim, no PAA devem ser
definidas as atividades a serem realizadas por vários níveis/anos/grupos/turmas
em simultâneo, mas também poderão estar discriminadas aquelas que foram
pensadas tendo em consideração a realidade e o projeto de um grupo/turma
específico.
Tendo
em conta a logística dos estabelecimentos de ensino e das parcerias que possam
ter, por vezes há a necessidade de marcar com antecedência muitas destas saídas,
pelo que se trata de um planeamento a médio e longo prazo. Contudo, esta
premissa não impede que o PAA se torne num documento fechado em si mesmo porque,
na realidade, este tem de se assumir como um documento flexível. É natural que
haja atividades planeadas que não aconteçam e outras que surjam a partir das
necessidades emergentes dos contextos, às quais o PAA deve dar resposta.
Este
último ponto remete-nos para a etapa final de um PAA, que é a sua avaliação no
final do ano letivo. Certamente se estarão a questionar sobre o porquê de me
referir à avaliação do PAA antes de abordar, por exemplo, as atividades que
devem constar neste documento.
A
avaliação do PAA é fundamental e deve ser assumida com grande seriedade. Apesar
de ser feita no final do ano letivo, altura em que as equipas estão com um
grande nível de exaustão, esta avaliação torna-se fundamental para que no ano
seguinte não se repita aquilo que não correu bem. Um erro muitas vezes cometido
está relacionado com a extensão dos PAA e, todos os anos, nas reuniões de
avaliação ouvimos “no próximo ano não colocamos tantas atividades”. Ouvimos
isto, uma, duas, três e tantas mais vezes mas, no ano seguinte, as atividades
planeadas continuam a ser muitas, por vezes mais. E é esta avaliação que nos
deve fazer pensar:
De
que serve, afinal, a avaliação do PAA que fazemos?
Que
atividades registar no PAA? Que intencionalidade(s)?
Nem
todas as datas do calendário devem ser motivo de celebração. As atividades que
constam nos PAA não podem resumir-se a festas e celebrações, pelo que não
podemos transformar as salas de creche e de jardim-de-infância em ateliers de
confeção de coisas e coisinhas só porque é dia disto ou dia daquilo. O PAA não
pode assumir-se como uma súmula de datas festivas: o dia disto, o dia daquilo,
o dia de uma coisa, o dia de outra coisa… O PAA é mais do que isso.
Certamente
muitos me dirão que há datas importantes e que é essencial celebrá-las com as
crianças, porque faz parte da cultura. Respondo que “Não, não é necessário
celebrar todas as datas do calendário”. Há uma diferença significativa entre o
verbo “celebrar” e o verbo “assinalar”. Em Educação de Infância há datas que,
efetivamente, deverão ser celebradas, até porque é fundamental que as crianças
alarguem as suas referências culturais bem como reconheçam e valorizem os laços
de pertença social e cultural, estabelecendo relações entre o passado e o
presente. Mas nem todas as datas têm de ser celebradas, podendo simplesmente
ser assinaladas. Quando assinalamos uma data com crianças não é obrigatório que
se faça uma atividade sobre a mesma. Conversar sobre as coisas é tão importante
e por vezes é o contrário que acontece: desenvolve-se uma atividade mas não se
conversa, não se explica, não se estimula a curiosidade das crianças e não se
permite o questionamento pelos mais pequenos.
É
fundamental que os discursos na elaboração do PAA passem de “vamos fazer esta
atividade porque é dia de…” para discursos mais intencionais.
Ainda
em relação à avaliação do PAA, poucas são as vezes em que as atividades são
avaliadas negativamente. Nestes momentos, tendemos a suavizar a verdade.
Porquê? Por não gostarmos de avaliar negativamente uma atividade pensada e planeada
por nós? Como é que é possível que todas as atividades corram bem e deem
resposta aos objetivos definidos? A avaliação do PAA deve assumir-se como um
momento de reflexão e aprendizagem para o futuro. A avaliação deste documento
deve ser reinvestida no planeamento do PAA do ano seguinte, pelo que é
fundamental que avaliemos com seriedade aquilo que não corre bem, assumindo com
naturalidade uma avaliação negativa construtiva.
.
Que
neste ano letivo elaboremos os PAA com maior consciência e intencionalidade!
Um
Educador de Infância,
Fábio
Gonçalves
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