O natal, os enfeites e a intencionalidade educativa

 



O que diferencia um Educador de Infância de outro profissional pode resumir-se, entre outras, a duas palavras: INTENCIONALIDADE EDUCATIVA.

 

O Natal está a chegar e é natural que o espírito natalício invada as creches, os jardins-de-infância e as escolas: pela voz das crianças, dos educadores… pela sociedade que já respira Natal.

 

Enquanto educadores, cabe-nos atribuir uma intencionalidade àquilo que fazemos com as crianças ou pretendemos que façam: trabalhar o Natal com objetivos pedagógicos e não meramente decorativos – por muito que a decoração até possa e tenha que acontecer!

 

O problema não é a decoração, mas sim a forma como ela surge nas salas e é apresentada às crianças (quando é apresentada!). Ainda que possamos assumir que o Natal seja um interesse dos mais pequenos, importa que as nossas práticas tenham uma intencionalidade maior do que transformar a sala num atelier de construção de coisas e coisinhas natalícias para “enfeitar”. Coisas e coisinhas tais que as crianças nem sabem bem aquilo que vão ou estão a fazer.

 

Isto não seria um tema de reflexão caso as crianças tivessem uma participação ativa naquilo que acontece na sala. Se houvesse uma pedagogia centrada na escuta e no envolvimento das crianças na gestão e organização do dia-a-dia da sala, as próprias seriam consultadas sobre o que fazer, como fazer, quando fazer ou sobre quem vai fazer.

 

Uma das maiores especificidades da Educação de Infância prende-se com o facto de não haver um currículo formatado, uma vez que se procura partir de um currículo oculto e valoriza-se aquele que emerge do e com o grupo. É inevitável que o Natal surja, até porque faz parte da cultura e tradição da maioria das famílias portuguesas, por isso acredito que possa ser assinalado, adequado à realidade de cada contexto, das crianças e das suas vivências familiares.

 

Mas se é para celebrar, então é fundamental que as crianças sejam consultadas e se tornem parte do planeamento. Os interesses, as necessidades, os desejos e as vontades das crianças de um grupo não se encontram naquelas páginas com milhares de fotografias, onde pesquisamos ideias sobre pais natais, árvores, postais, sinos, presentes, decorações da porta e tanto mais.

 

Sim, se forem necessárias ideias para o Natal, em vez de recorrermos a um motor de busca, ou a um grupo no Facebook para pesquisarmos “moldes de pai natal”, "pai natal lindo com brilhantes" ou “árvore de Natal com materiais recicláveis”, perguntemos às crianças. Elas sabem falar… e têm ideias!

 

E não corrijamos as produções natalícias das crianças. Se a estrela ficou com as “pontas tortas” ou se o pai natal ficou com a barba de lado, não temos que “endireitar” ou “dar um jeitinho” para ficarem todos iguais. Podemos fazê-lo em momentos específicos, principalmente por questões de aprendizagem para a criança, mas que nunca o façamos para que as produções das crianças fiquem bonitas... aos nossos olhos. 

 

Ah, e não esquecer que fazer objetos de decoração natalícia a partir de materiais recicláveis novos (pais natais com pratos de plástico…novos! bonecos de neve com copos de plástico…novos!), não faz lá muito sentido, tendo em conta os paradigmas de ecologia e sustentabilidade que tanto procuramos que as crianças vivenciem.

 

Quando damos às crianças a agência que lhes é devida, não vamos ter árvores de Natal iguais às da sala da colega que está a 600km de distância e que nem sequer conhecemos, nem teremos postais de Natal exatamente iguais a outras tantas crianças de outras tantas salas. As construções serão únicas e incomparáveis, porque serão da responsabilidade de cada uma das crianças.

 

A criança é um melhor “motor de busca” a que podemos recorrer. 

Porque a criança não faz parte, ela é parte!

Que na celebração deste Natal as crianças sejam parte. E sejam felizes!

 

 

Um Educador de Infância,

Fábio Gonçalves

Comentários

  1. As tuas reflexões têm-me levado a escutar mais as crianças e este ano, para as decorações de Natal as crianças foram "consultadas sobre o que fazer, como fazer, quando fazer, quem vai fazer..." resultando um painel coletivo.

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  2. Reflexão excelente que mais não pretende que formar cidadãos com mentes felizes, criativas e originais que possam contribuir para produzir um mundo mais humano e sobretudo mais acolhedor.

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